No Reino das Águas Claras

SÍTIO DO PICAPAU AMARELO

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NO REINO DAS ÁGUAS CLARAS

O ribeirão  que passa pelos fundos do pomar é um dos encantos de Narizinho. Suas águas apressadinhas e mexeriqueiras, correm por entre pedras negras de limo que Lúcia chama as "Tias Nastácias do rio".

Não há peixe do rio que não  a conheça; assim que ela aparece, todos acodem numa grande faminteza.

 "Uma vez, depois de dar comida aos peixinhos, Lúcia sentiu os olhos pesados de sono. deitou-se na grama

com a boneca no braço e ficou seguindo as nuvens que passeavam pelo céu, formando ora castelos, ora camelos. E já ia dormindo, embalada pelo mexerico das águas, quando sentiu cócegas no rosto. Arregalou os olhos: um peixinho vestido de gente estava de pé, na ponta do seu nariz.

Trazia casaco vermelho, cartolinha na cabeça e guarda-chuva na mão - a maior das galanteza! O peixinho olhava para o nariz de Narizinho com rugas na testa, como quem não está entendendo nada do que vê.

A menina reteve o fôlego de medo de o assustar, assim ficando até que sentiu cócegas na testa. Espiou com o rabo dos olhos Era um besouro que pousara ali. Mas o besouro Mestre Cascudo  também vestido de gente, trajando sobrecasaca preta, óculos e bengala..."

O príncipe escamado pensou que as narinas de Narizinho se tratavam de tocas e indagou ao Mestre Cascudo  que sua esposa havia  de  gostar dessa repartição de cômodos. O besouro foi lá examinar as tocas. Mediu a altura com a bengala. E para certificar-se  cutucou bem lá no fundo.

Como a bengala fizesse cócegas no nariz de Lúcia, saiu um formidável espirro - ATTCHIM!

Lúcia se apresentou dizendo que era ela quem todos os dias dava comida a eles.

O príncipe disse que era impossível reconhecê-la. Vista de dentro d'água parecia muito diferente e apresentou-se como o Príncipe Escamado, o rei do Reino das Águas Claras.

Conversaram por longo tempo  e, por fim,  o Príncipe convidou-a para uma visita ao seu reino.

E lá se foram os dois de braços dados,  como velhos  amigos.
A boneca seguia atrás sem dizer palavra...

... Dona Carochinha foi procurar o Príncipe Escamado pois estava preocupada com o sumisso do Pequeno Polegar. Ele havia sumido do livro onde mora e não foi encontrado em parte nenhuma. Ela já havia percorrido todos os reinos encantados sem descobrir o menor sinal dele.

Narizinho quis saber por que o Pequeno Polegar havia sumido mas Dona Carochinha disse que  não sabia.

Ela havia notado  que muitos personagens de suas histórias  andavam aborrecidos de viverem toda a vida presos dentro delas. Queriam novidades.

Disse que tudo isso estava acontecendo por causa do Pinóquio, do Gato Félix e, sobretudo por causa de uma tal menina do narizinho arrebitado que todos desejavam muito conhecer.

Disse que a menina morava numa casinha branca, em companhia de duas velhas corocas.

Narizinho perdeu as estribeiras e disse que velha coroca era ela.

A menina  afirmou que  não havia aconselhado o Pequeno Polegar a fugir mas que a partir daquele momento  iria aconselhar a fuga de todos os personagens de seu livro borolento.

A velha, furiosa, ameaçou-a de desarrebitar o nariz da primeira vez que a encontrasse sozinha.

Logo em seguida Dona Carochinha  retirou-se furiosa da vida.

O Príncipe ficou aliviado ao ver o incidente terminado e pediu ao primeiro ministro que mandasse convite a todos os nobres da corte para a grande festa no dia seguinte em honra a distinta visitante e solicitou que o Mestre Camarão viesse  imediatamente com o coche de gala para um passeio pelo fundo do mar...

Depois do jantar o Príncipe levou Narizinho a casa da melhor costureira do reino.

Era uma aranha de Paris, que sabia fazer vestidos lindos, lindos até não poder mais! Ela mesma tecia a fazenda, ela mesma inventava as modas.

Ele pediu que Dona Aranha fizesse o vestido mais bonito do mundo para Narizinho  pois ele iria dar  uma  grande festa  em sua honra e queria vê-la deslumbrar a corte...

Dando a mão a Narizinho, o Príncipe Escamado dirigiu-se a sala do baile e todos os presentes ficaram espantados com a beleza da menina.

Pensaram se tratar da filha única da Fada dos Sete Mares....

Narizinho e o Príncipe dançaram a primeira contradança sob os olhares de admiração de todos...

Durante a festa ocorreram cenas engraçadas e algumas tragédias.

Um velho caranguejo tirou uma gorda taturana para valsar e apertou-a tanto nos braços que a furou com o ferrão. A pobre dama deu um berro ao ver espirrar aquele líquido verde que as taturanas têm dentro de si.

Ao mesmo tempo que isso se dava, um besouro do Instituto Histórico tropeçou numa pérola, caiu e desconjuntou-se todo.

O Doutor Caramujo foi chamado às pressas para consertar a taturana e o besouro.

   __ Que bom cirurgião! - exclamou Narizinho.

   __ Amanhã sem falta vou levar Emília ao consultório dele - disse ela ao Príncipe.

                                                    

                                                  

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